Top 5 | Cinco Manic Pixie Dream Girls da Literatura


Às vezes, me deparo com uma personagem feminina que me causa ranço. Até pouco tempo atrás, não conseguia definir o que me causava esse bode mas, então, me deparei com o conceito de Manic Pixie Dream Girls (MPDG) e, aí, tudo fez sentido. Este post vai explicar o que é este estereótipo e alguns exemplos irritantes dele.

Manic Pixie Dream Girls é um conceito criado em 2005 por Nathan Rabin. Personagens femininas MPDG existem na trama apenas como um suporte para o protagonista homem que, por definição, é imaturo e não se desenvolve (emocional e psicologicamente) ao longo da estória. As MPDG são, somente, um interesse romântico e, pior, são machistas: anulam suas personalidades para satisfazer os homens, não tem objetivos próprios e são dependentes de seus relacionamentos. 

Mas a pior parte das MPDG é que elas são escritas de uma forma que faz parecer que elas são incríveis e que as mulheres deveriam ser como elas ou, ainda, despertando nas mulheres uma necessidade de ser ou ter uma vida igual a da MPDG ("50 Tons de Cinza", olá). Este é um dos paradigmas que tentamos quebrar atualmente, trazendo mais empoderamento e protagonismo para as personagens femininas, seja na literatura ou no cinema. As MDPG são uma armadilha e aqui deixo alguns exemplos na literatura.

1. Sam, de "As Vantagens de Ser Invisível" (Stephen Chbosky)
Uma das diferenças entre o livro e o filme de "As Vantagens de Ser Invisível", de Stephen Chbosky, é a personalidade de Sam. Embora no filme ela tenha sido interpretada de forma mais meiga por Emma Watson, no livro ela apresenta as características de uma MDPG. Sam pula de relacionamento abusivo em relacionamento abusivo, todos disfarçados de amor adolescente, configurando uma das típicas armadilhas do estereótipo. Sam também não tem uma personalidade definida, mudando suas atitudes de acordo com o ambiente ao seu redor. Não à toa, ela e Charlie não vingam como um casal, pois Charlie dá a ela uma liberdade de identidade que ela não usar. 
Posts relacionados:
O livro ou o filme? | As Vantagens de Ser Invisível, de Stephen Chbosky


2. Marylou, de "Na Estrada" (Jack Kerouac)
Marylou, par de Dean em "Na Estrada", de Jack Kerouac, é um acessório romântico. Ela se conforma por sempre estar no papel de amante, enquanto Dean se casa, tem filhos e abandona duas mulheres no percurso. Ela também não parece se incomodar pela forma misógina com que Dean trata suas companheiras, tampouco manifesta insatisfação por ser vista como um objeto. Para piorar, ela faz todas as vontades de Dean e não aparenta tem nenhuma vontade própria. No livro, Marylou não aparece com tanta frequência mas, no filme, Kristen Stewart glamourizou esta MDPG, o que não traz benefícios para ninguém.
Post relacionado: O livro ou o filme? | Na Estrada, de Jack Kerouac


3. Lux Lisbon, de "As Virgens Suicidas" (Jeffrey Eugenides)
A premissa deste livro é interessante: narrado por um grupo de adolescentes meninos, eles contam como foi se deparar com a notícia de que as cinco irmãs Lisbon cometeram suicídio ao mesmo tempo. De todas as irmãs, Lux foi a que causou mais alvoroço no coração (e calças) dos meninos. Descrita como sonhadora e meiga, Lux Lisbon era, na realidade, submissa. Suas outras irmãs, com personalidades mais fortes e opiniões desafiadoras, não causaram tanto sucesso com os meninos e as deixavam com inveja de Lux - quando deveria ser ao contrário. Lux reforça o estereótipo das MDPG onde mulheres sonsas são mais atraentes (ei, Cho Chang, essa é para você!).


4. Leslie Burke, de "Ponte de Terabítia" (Katherine Person)
Embora "Ponte de Terabítia" não tenha componentes sexuais em seu enredo, alguns estereótipos se fazem presentes na personagem Leslie Burke. Amiga de Jesse Aarons, o protagonista, a presença dela nesta lista merece uma explicação.
Leslie é inteligente, esperta, criativa e melhor que Jesse em diversos aspectos. Então, o que acontece com uma personagem feminina que tinha tudo para roubar a cena e ser a protagonista? Ela morre, claro. As luzes precisam ser do personagem masculino que sofre. Leslie tinha todos os componentes para ser uma excelente personagem por si só, sem precisar se ancorar em Jesse mas, infelizmente, ela não era MPDG o suficiente para continuar viva. Uma pena.


5. Camilla Macaulay, de "A História Secreta" (Dona Tart)
"A História Secreta" é basicamente uma estória de suspense, onde um grupo de jovens ricos, cultos e privilegiados precisa encobrir um assassinato, enquanto guardam segredos e passam por experiências sexuais reveladoras. O enredo é interessante, mas peca no desenvolvimento de uma das únicas personagens femininas, Camilla. Camilla é gêmea de Charles e, já em sua descrição, percebemos o componente MPDG: ela não faz, veste, come, ouve ou lê nada que o irmão não aprove ou não ordene. Camilla é um mero reflexo de Charles, sem adquirir uma identidade própria e sem nenhum arco de evolução ao longo da trama. Ela é glamourizada com cigarros, sofisticação e riqueza mas, no fundo, não agrega nada às mulheres.
Post relacionado: Já Li #17 - A História Secreta, de Dona Tart

Se você quiser ler sobre mulheres e personagens femininas realmente interessantes, navegue pelos links abaixo:

3 Comments

  1. Acabei de descobrir de onde vem meu ranço. Amei a postagem!!!!

    ResponderExcluir
  2. Hoje mesmo eu estava pensando nesse assunto. Para mim a pior parte de personagens como a MPDG é que elas só reforçam aquele lance de "você não é como as outras mulheres" e isso acaba reforçando a rivalidade entre as mulheres.
    Uma personagem que acho que se encaixa bem nesse estereótipo é a Margo de Cidades de Papel do John Green. Ela daria uma protagonista ótima se fosse bem desenvolvida mas ela só está no livro para ser a garota diferentona que faz o protagonista sair da sua zona de conforto :/

    Epílogo em Branco

    ResponderExcluir
  3. Oi, Ruh, olha eu aqui! Hahaha. Então, eu a-d-o-r-o ler sobre esse tema e, apesar de muitas personagens eu já conhecer, é sempre legal perceber que as pessoas vão construindo a sua própria lista de MPDG. A Leslie, por exemplo, nunca passaria pela minha cabeça, achei sensacional você pensar nela. Acho que, hoje em dia, essas personagens, infelizmente, estão bastante presentes na literatura young adult, mas, de forma geral, vejo que as mulheres acabam caindo em estereótipos sexistas e misóginos. E é interessante - e triste - perceber que eles continuam sendo reproduzidos sem compreensão </3
    Amey demais a postagem *-*

    Love, Nina.
    www.ninaeuma.blogspot.com

    ResponderExcluir