Sugestão de Leitura | Os Lobos de Mercy Falls, Vol 1: Calafrio, de Maggie Stiefvater


Vez ou outra, a escritora Maggie Stiefvater aparece por aqui com algum livro digno de ser uma sugestão de leitura. Hoje, é a vez de falarmos sobre o primeiro volume da trilogia "Os Lobos de Mercy Falls", chamado "Calafrio".  Uma literatura fantástica descompromissada que vale a pena ler.

Para quem nunca ouviu falar desta escritora, recomendo começar pelo post "A Saga dos Corvos". É uma quadrilogia fantástica e sobrenatural muito interessante, que prende nossa atenção do início ao fim da leitura. Caso você prefira começar com um livro de volume único, veja "A Corrida do Escorpião", que mistura fantasia e lendas celtas antigas.

"Os Lobos de Mercy Falls" é uma quadrilogia que começou a ser publicada em 2009. Os protagonistas são Grace Brisbane e Sam Roth, ambos jovens que alternam suas identidades entre humano e lobo. Maggie Stiefvater deixa claro, desde o início, que não se trata de uma história de lobisomens, portanto, não espere transformações com a lua cheia nem mortes causadas por balas de prata. A premissa desta série é uma lenda antiga onde os seres humanos ficam no meio do caminho entre pessoas e lobos, possuindo características de ambos e que, aos poucos, perdem completamente a humanidade e transformam-se definitivamente em animais.

Grace, quando criança, foi arrastada por lobos furiosos até o bosque atrás da sua casa. Quando estava prestes a morrer, um dos lobos, com olhos amarelos particularmente intensos, a salva dos demais lobos e a leva de volta para a segurança de sua casa. Grace tornou-se obcecada por compreender a alcateia que vive nos bosques e, ao contrário do que se espera, não sente medo dos lobos - ao contrário, sente-se atraída por eles. Seus pais, ausentes e indiferentes, não se preocupam com sua segurança. Suas duas melhores amigas, Olívia e Rachel, acham seu interesse pelos lobos infantil e meio ridículo.

Isso não impede que Grace saia todas as noites no quintal de sua casa, esperando que o seu lobo salvador de olhos amarelos venha visitá-la. Ele fica sempre parado à margem do bosque, nos limites da residência de Grace, como se esperasse por uma aproximação da garota.

Os primeiros capítulos, narrados por Grace, mostram sua rotina: na escola, embora seja uma boa aluna, não se sente pertencendo a nenhum grupo e, a cada dia que passa, sua amizade com Rachel e Olívia fica mais e mais fraca; em casa, seus pais nunca estão presentes e não dispensam a ela nenhuma atenção ou cuidado especiais, o que fizeram de Grace uma garota independente e solitária.

Um dia, um dos alunos mais populares da escola, Jack Culpeper, desaparece nos bosques e todos assumem que ele foi morto pelos lobos. Os pais de Jack e outros adultos, incluindo o pai de Grace, organizam uma força-tarefa para matar todos os lobos do bosque. Ao pensar em "seu" lobo de olhos amarelos, Grace entra em pânico e tenta salvá-lo do ataque. No entanto, ele toma um tiro no ombro e, momentos depois, Grace encontra um rapaz nu sangrando no quintal de sua casa.

O lobo chama-se Sam. Ele foi mordido por lobos quando ainda era uma criança e há mais de dez anos vive transitando entre as formas humana e lupina. Neste ponto da narrativa, começam os capítulos narrados por ele. Assim, tanto o leitor quanto Grace descobrem a hierarquia da alcateia, a figura paterna que Sam vê no lobo mais velho, Beck, e todas as rixas e disputas por território que existem. Porém, Sam não tem todas as respostas sobre o que o tornou lobo, o que deixa Grace cheia de perguntas em aberto. A única coisa que ele sabe é que o frio o transforma de humano em lobo. Por isso, ele só é Sam nos verões, onde aproveita para estudar, aprender e amadurecer como membro da alcateia. Ele também sabe que, depois de um certo tempo - que varia para cada um - a transformação em lobo é completa e, mesmo no verão, o indivíduo não volta mais a ser humano.

E é esta ameaça que paira sobre o relacionamento amoroso dos dois, relacionamento este que começou quando Sam ainda era um lobo. Primordialmente, "Calafrio" é uma estória de amor, nos mesmos níveis de doçura enjoativa de "Crepúsculo". Se não fosse pelo estilo de escrita de Maggie, provavelmente eu teria desistido da leitura. Porém, a escritora é mestre em construir personagens femininas jovens interessantes, assim como interesses amorosos complexos e apaixonantes. Maggie garantiu que me vinculasse aos dois protagonistas e, assim, amoleceu um pouco o meu coração - sempre comento por aqui como detesto estórias de amor.

Grace quer salvar Sam e compreender o que aconteceu com Jack Culpeper, além de querer fazer parte da alcateia, que seria o substituto de sua família ausente. O leitor descobre o que acontece com os lobos junto com Grace. Alguns elementos fantásticos vindos da lenda original são um pouco falhos - como, por exemplo, a transformação em lobo através do frio. Maggie sustentou com elegância estes pontos, contornando possíveis lacunas que deixariam o enredo fraco. Espero que mais explicações e respostas sejam dadas nos próximos volumes.

Analisando a estrutura da estória, o começo e o fim foram bem elaborados, mas o meio do livro, na minha opinião, foi um pouco cansativo. O enredo focou-se no amor entre Grace e Sam e achei que faltou conflito (além do casal) e cenas de ação. Imagino que Maggie quis estabelecer uma base sólida para os dois, uma vez que eles serão os protagonistas dos próximos volumes.

Mesmo assim, foi uma leitura muito agradável. Não é a melhor obra de Maggie (que, para mim, é a "A Saga dos Corvos" que mencionei anteriormente), mas recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio:

0 Comments