O livro ou o filme? | Minority Report, de Philip K. Dick


"Minority Report", filme de 2002, é um dos meus filmes preferidos de ficção-científica. Somente agora consegui ler o livro de mesmo nome do autor Philip K. Dick e, neste post, faremos mais uma batalha do livro versus o filme.

Philip K. Dick é um escritor consagrado de ficção-científica, que explora assuntos como totalitarismo, grandes corporações, universos paralelos e alterações de consciência. Com o tempo, ele incluiu temas religiosos, teologia e filosofia, o que torna as suas últimas obras mais sombrias e profundas que as anteriores. Ao longo de sua vida, ele publicou 44 livros e 121 contos e algumas de suas estórias viraram filmes, como o conto "Minority Report".

Escrito em 1956, o conto se passa em uma sociedade futurista, onde criou-se o Sistema Pré-Crime. Nele, três mutantes denominados precogs conseguem prever quando uma pessoa irá cometer um crime e a Divisão Pré-Crime prende esta pessoa antes que ela o cometa. Os precogs são chamados de idiotas e de macacos pelos integrantes da Divisão, pois eles possuem deformidades físicas e são seres vegetativos, que apenas emitem ondas cerebrais e ruídos indistintos.

O chefe da Divisão, John A. Anderton, está prestes a se aposentar e seu possível sucessor, Ed Witwer, é contratado como seu assistente, até que Anderton resolva deixar seu posto. Witwer é recebido com desconfiança por Anderton e, no auge de sua paranóia, acha que Witwer tem um caso com sua esposa, secretária da Divisão.

Os precogs disparam mensagens elétricas neuronais a uma máquina, que traduz as mensagens em fichas, onde constam o nome do futuro assassino, o nome do futuro assassinado e local e dia do ocorrido. Um dia, Anderton tira uma ficha com seu próprio nome nela, dizendo que ele assassinará Leopold Kaplan - uma pessoa que Anderton sequer conhece. Daí em diante, Anderton se vê dividido entre fugir da acusação de Pré-Crime e não fazer a sociedade desacreditar no Sistema, além de descobrir se tudo isso foi uma armação de Witwer para ficar com seu cargo.

O filme manteve as premissas do Sistema Pré-Crime, bem como o protagonista Anderton. No entanto, no livro Anderton é idoso, doente, fora de forma e está prestes a se aposentar, enquanto no filme ele é interpretado por Tom Cruise, galã e no auge da forma física (e da carreira). A indústria cinematográfica deve ter pensado que ninguém iria ver um filme com um idoso como personagem principal, mas quem não veria Tom Cruise no início dos anos 2000?! Além disso, incluíram um background a Anderton que, no filme, teve um filho que foi sequestrado e morto antes da era Pré-Crime.

A segunda grande diferença é em relação aos precogs. Assim como "embelezaram" Anderton, os precogs do filme são crianças saudáveis e bonitas que abusaram das drogas na era Pré-Crime e, por isso, adquiriram a habilidade de prever o futuro. No livro, eles se chamam Mike Donna e Jerry, enquanto no filme eles foram nomeados em homenagem a escritores de crimes e suspenses: Agatha (Christie), Dashiell (Hammet) e Arthur (Connan Doyle). Além disso, no filme os precogs apenas antecipam assassinatos, enquanto no livro eles são capazes de prever qualquer tipo de crime.

Mas a diferença mais significativa entre as duas obras está na estória. No livro, Anderton descobre quem é Kaplan em frustrantes quinze linhas depois. Já no filme, são duas horas de mistério e suspense até que Anderton (e o expectador) descubra quem é o possível assassinado. 

Por outro lado, o livro explora mais as três linhas temporais possíveis, derivadas de cada precog. Os precogs geram três relatórios distintos pois, em cada um, eles prevem uma reação possível de Anderton à notícia do assassinato. Desta forma, os três relatórios podem estar errados, como os três podem estar certos, o que desqualificaria todo o Sistema Pré-Crime - afinal, viria à público a ineficiência de se prever o futuro. "Minority Report", ou o relatório da minoria, em tese é o único relatório diferente dos três, que validaria os dois restantes como corretos. Mas, no caso de Anderton, não existe este relatório da minoria.

O livro ou o filme? O filme. Embora Philip K. Dick tenha criado um universo futurista muito legítimo, o conto é apressado e sem aprofundamento do enredo. Anderton não foi escrito de forma carismática e Kaplan, que seria o grande antagonista da estória, é insosso. O filme, apesar das mudanças que fez, elevou o enredo a um outro nível, transformando a obra em algo emocionante, instigante e inteligente. Se for para escolher entre ambos, veja o filme e divirta-se.


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