Desafio Livros pelo Mundo | Índia: O Deus das Pequenas Coisas, de Arundhati Roy


Este post também faz parte do Rory Gilmore Book Challenge.

Desafio Livros pelo Mundo tem como objetivo divulgar e disseminar a literatura de outros países fora do eixo EUA-Inglaterra. Aqui no blog, já apareceram dez países e hoje é a vez da Índia, com Arundhati Roy e o sensível livro "O Deus das Pequenas Coisas".




Arundhati Roy, além de escritora, também é ativista política e luta pelos direitos humanos e causas ambientais. Ela também é a única escritora indiana a se tornar best-seller. Sua mãe, Mary Roy, já era ativista desde que Arundhati era criança e moravam em uma plantação de chá, onde seu pai trabalhava. A história de vida desta escritora é incrível e vale a pena ser conhecida - pesquise depois!

"O Deus das Pequenas Coisas" é o primeiro livro de Arundhati, publicado em 1997. A estória se passa em Ayemenem, uma vila do distrito de Kottayam, no Estado de Kerala, na Índia, por volta do ano de 1969. Os protagonistas do livro são dois irmãos gêmeos: Rahel e Esthappen. Os irmãos vivem juntos até os nove anos de idade e, como gêmeos, tinham praticamente uma vida simbiótica, pois sentiam, pensavam e viviam exatamente as mesmas coisas, provocando o espanto de todo o resto da sua família. Porém, aos nove anos, eles são separados e reencontram-se muito tempo depois, já com 31 anos de idade.

A estória dos gêmeos é intermeada com acontecimentos envolvendo o movimento Comunista da índia, o sistema de castas e a Comunidade Cristã Síria de Kerala. Tanto o movimento Comunista quanto a Comunidade Cristã tentam acabar com diversas doutrinas do hinduísmo, provocando várias cisões, revoltas populares e movimentos sociais na Índia. 

A narrativa também se estende aos parentes de Rahel e Esthappen e, aos poucos, o leitor compreende que o pai deles era abusivo e alcólatra e batia nos gêmeos e na sua mãe, Ammu. Ammu se separa do marido e retorna a Ayemenem com os gêmeos e todos vão morar na casa dos pais de Ammu (avós dos gêmeos), chamados de Pappachi e Mammachi. Além deles, também aparece a figura de Chacko, irmão de Ammu e tio dos gêmeos. 

Arundhati intercala momentos presentes com flashbacks, tanto da infância dos gêmeos como das vidas de Ammu e Mammachi. 

Paralelamente, a narrativa também fala de Baby Kochamma, irmã de Pappachi. Ela converteu-se ao Catolicismo ainda nova, pois apaixonou-se por um padre irlandês e, por isso, observa os comportamentos e os costumes do restante da família com desaprovação e ressentimento. A família ainda vive sob os preceitos do hinduísmo e do sistema de castas e Chacko flerta com o Comunismo.

O cenário da família fica ainda mais complexo quando Margaret, primeira esposa de Chacko, e a filha deles Sophie resolvem passar férias em Ayemenem. Porém, logo no capítulo de abertura do livro, o leitor fica sabendo que Sophie morreu porque foi enterrada viva por engano. Pois é, caros leitores, este livro não é uma leitura fácil.

E, por fim, outro conflito importante da narrativa é o amor proibido de Ammu por Velutha, um dalit, ou seja, pertencente à camada mais baixa do sistema de castas indiano. Eles mantém o relacionamento em segredo por muitos anos mas, eventualmente, eles são descobertos e punidos.

Todos estes acontecimentos são contados a partir do ponto-de-vista dos gêmeos que, depois de crescidos e separados, acabam tendo personalidades completamente diferentes e já não conseguem mais ter a mesma conexão e simbiose da infância. Todos estes relacionamentos familiares são contados com muita sensibilidade e profundidade por Arundhati e me emocionei em diversos trechos da obra.

Além disso, Arundhati conseguiu escrever de forma clara e precisa muitos dos conflitos sociais e políticos da Índia. Aprendi muito sobre este país com a leitura e, principalmente, passei a admirar o povo indiano ainda mais, pois eles resistem às pressões ocidentais e do mundo moderno, mantendo-se fiéis aos seus valores e suas crenças.

É uma leitura que eu recomendo muito e que gera bastante emoção e reflexão.

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