Já Li #37 - A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery


A literatura francesa me atrai, de tempos em tempos, pois acredito que os escritores deste país costumam ter narrativas mais existenciais e filosóficas, em comparação com escritores americanos ou ingleses, por exemplo. Por isso, quando vi que Muriel Barbery é uma escritora naturalizada francesa, me interessei em conhecer mais sobre sua obra.

Mas, antes de falar sobre "A Elegância do Ouriço", um pouco mais sobre Barbery: nascida no Marrocos, sua família mudou-se para a França quando ela ainda era um bebê. Ela é formada em Filosofia e viveu dois anos no Japão, antes de decidir tornar-se escritora. A formação em Filosofia é notória logo no primeiro capítulo do livro e o tom de "estudo existencialista" irá permear a obra até o fim.

"As pessoas creem perseguir as estrelas e acabam como peixes-vermelhos num aquário. Fico pensando se não seria mais simples ensinar desde o início às crianças que a vida é absurda. Isso privaria a infância de alguns bons momentos, mas faria o adulto ganhar um tempo considerável - sem falar que, pelo menos, seríamos poupados de um traumatismo, o do aquário." (A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery)

O livro é contado a partir do ponto-de-vista de duas protagonistas: Renée e Paloma, ambos em primeira pessoa e em capítulos alternados. Elas representam os dois opostos da sociedade francesa: Renée é a zeladora de um prédio de alto padrão em Paris e Paloma é a filha de uma das famílias burguesas. No entanto, ambas não correspondem aos estereótipos de suas respectivas classes sociais.

Renée, 54 anos, embora seja do protelariado, é muito intelectual. Ela leu todos os filosófos, conhece profundamente o trabalho de Karl Marx e Kant e gosta de assistir filmes alternativos e conceituais. No entanto, ela evita contar seus hobbies para as pessoas, pois ela teme que ninguém vá acreditar que ela, uma pessoa de origem pobre e humilde, possa ser culta. No prédio, nenhum morador lhe dedica particular atenção, afinal, "ela é apenas uma zeladora" e sua invisibilidade perante os moradores acentua ainda mais as diferenças sociais.

Paloma, 12 anos, é muito madura para a sua idade e é a filha mais velha de uma família rica extremamente tradicional e conservadora. Ela despreza seu pai, um parlamentar, sua mãe, uma "madame fútil", e sua irmã mais nova, mimada. Assim, Paloma se refugia na cultura japonesa e nos seus diários, onde registra, em um, pensamentos profundos e, em outro, os movimentos do mundo ao seu redor. Ela decide que cometerá suicídio quando completar treze anos, a não ser que encontre algo no mundo que realmente valha a pena experienciar.

"Em suma, acho que o gato é um totem moderno. Por mais que se diga, por mais que se façam grandes discursos sobre a evolução, a civilização e um monte de palavras em "cão", o homem não progrediu muito desde seus primórdios: continua a crer que não está aqui por acaso e que deuses em sua maioria benevolentes zelam por seu destino." (A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery)

Em um determinado momento, Reneé e Paloma começam a se relacionar, a despeito da diferença de classe social e de idade entre elas. 

O livro trata, predominantemente, dos estereótipos que a classe social determina. Os demais moradores do prédio tem aparições pontuais ao longo da narrativa e tais aparições, de forma geral, servem para reforçar estes estereótipos. A questão social é tratada de forma filosófica, o que pode cansar alguns leitores que esperam ação e conflito. A escrita de Barbery é cheia de alegorias, ou seja, o uso de expressões que significam além do literal, e esta é outra característica do livro que pode torná-lo maçante para alguns.

Particularmente, o que me manteve entretida na estória foi saber, a final de contas, se Paloma cometeria suicídio ou não. Ela é uma personagem bastante cativante e Barbery a escreveu com louvor. No entanto, o restante do enredo não me prendeu e as discussões filosóficas, interessantes no início, tornaram-se repetitivas ao longo do livro.

Ainda pretendo ler outro livro de Barbery, chamado "A Vida dos Elfos", para formar uma opinião mais embasada sobre a escrita dela.

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