Já Li #29 - A Canção dos Shenlongs: Guerras Épicas do Império de Housai, de Diogo Andrade


Para quem está acostumado a ler Fantasia, vira-e-mexe é necessário encontrar uma estória que tenha algum cenário ou sistema mágico novos, afinal, algumas fórmulas e receitinhas de bolo, infelizmente, são repetidas entre os escritores do gênero. Por isso, quando me deparei com os monges guerreiros de "A Canção de Shenlong", fiquei curiosa na mesma hora para saber mais sobre eles.

Diogo Andrade é um escritor brasileiro formado em Economia e Gestão de Sustentabilidade. Decidido a correr atrás do seu sonho de ser escritor, escreveu este primeiro romance. O livro está disponível na Amazon, em formato digital, e pode ser comprado aqui. A obra possui uma ótima qualidade gráfica e conta com duas ilustrações lindas (uma delas ilustra o post).

No mundo, existem quatro Templos Antigos onde monges guerreiros vivem isolados do restante da civilização. Cada Tempo possui suas próprias leis e cultura e este livro é focado em Shanjin, o Templo da Montanha. O Império Housai tem pressionado e ameaçado Shanjin nos últimos tempos, querendo aumentar seu poder de dominação através dos conhecimentos que constam no livro chamado Tomo das Formas.

Mu e seu irmão Ruk chegaram, por acaso, a Shanjin. Eles costumavam ser garotos de rua e, um dia, quando tentavam roubar o monge Sarujin, este último viu potencial nos dois garotos e os levou para o Templo. Sarujin, desta forma, torna-se uma figura paterna para os dois irmãos. Além do monge, Mu e Ruk tornam-se amigos de Nili e Aga. Nili e Aga são de personalidades diametralmente opostas: Nili é inteligente e estudioso, enquanto Aga é negligente e prefere combates físicos.

A estória começa com a expulsão de Ruk, pois ele matou uma pessoa na vila mais próxima de Shanjin, a Vila da Mata. Alguns monges vão para esta vila comemorar e beber e, em uma destas ocasiões, Ruk envolve-se em um conflito e é acusado de assassinato. Mu, então, passa a ter que lidar com a ausência de seu irmão.

Os garotos revezam-se em atividades de manutenção de Shanjin, em uma rotina ordeira e tranquila, até que um espadachim invade os terrenos do Templo e informa que o Império Housai irá invadí-lo. Desta forma, todos os monges e os garotos de Shanjin precisam preparar-se para a guerra, para defender o território do Templo e, principalmente, para garantir que o Tomo das Formas não caia nas mãos do inimigo. Além disso, Mu precisará lidar com diversos conflitos que surgem por causa de seu irmão, Ruk.

Mu é um protagonista muito carismático. Ele não tem a pretensão de ser um herói pronto e capaz de lidar com todas as dificuldades, pelo contrário: o leitor se identifica com suas fraquezas e vulnerabilidades. Seus sentimentos conflitantes em relação a Ruk também o tornam humano e real.

As práticas dos monges guerreiros também são muito interessantes, principalmente as relacionadas ao chi. A atmosfera oriental e mística do Templo confere um ambiente novo ao enredo fantástico e me senti transportada para Shanjin e para a rotina dos shenlongs. Também destaco as excelentes cenas de batalha corporal que Diogo Andrade descreveu, bem ritmadas e posicionadas ao longo da trama, sobretudo no trecho final.

Como pontos de atenção no enredo, um me chamou mais a atenção: embora o título da obra mencione a canção dos shenlongs, a canção em si teve pouco destaque na obra, na minha opinião. Quando, enfim, chega o momento dos monges reunirem-se e cantarem sua canção milenar antes do ataque do Império, achei que a cena foi curta e não ganhou o peso que a estória merecia. Acredito que esta cena poderia ser trabalhada de forma a tornar-se mais longa e representativa, trazendo mais magia e mais poesia a um momento que tinha potencial para ter uma carga emocional maior para o leitor.

Também senti falta de um maior aprofundamento das relações de Mu, tanto com seus amigos Aga e Nili quanto com seu monge-mentor Sarujin. Embora o autor deixe claro a importância destas personagens na vida de Mu, acredito que poderiam haver mais cenas envolvendo o cotidiano e os sentimentos de todos eles pois, assim, quando o desfecho chegasse, o leitor estaria mais vinculado aos demais personagens da obra, e não somente Mu.

De forma geral, este livro me proporcionou uma leitura muito agradável e acredito que seja um ótimo romance de estréia para Diogo. A trama é bem amarrada, as premissas são criativas e o desenrolar da estória prendeu minha atenção. E espero, no futuro, ler mais sobre os incríveis monges shenlongs.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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