Já Li #2 - Uma Constelação de Fenômenos Vitais, de Anthony Marra


Quem nunca comprou um livro porque a capa era bonita e/ou o título era atrativo, que atire a primeira pedra. Atraída por ambos - capa e título - a aquisição deste mês foi este livro de Anthony Marra.

A narrativa é focada em Havaa, uma menina de cerca de oito anos de idade que vê seu pai ser levado por soldados chechenos durante a guerra. Depois de ter a casa incendiada, Havaa se refugia em um hospital abandonado, onde passa a ser cuidada por Sonja, uma das poucas médicas que não fugiram ou morreram na guerra. Sonja, por sua vez, não quer estabelecer vínculos emocionais muito profundos com a garota, em virtude das próprias perdas e traumas que sofreu por causa da guerra. Ao longo da estória, Sonja percebe que Havaa tem várias conexões com sua irmã desaparecida e começa a investigar o paradeiro de sua irmã. 

A narrativa se desenvolve ao redor desta atmosfera de guerra, violência, perdas e abandonos, e Anthony Marra preocupa-se em trazer romance e esperança mesmo em meio ao drama de ambas. A relação entre Havaa e Sonja vai se estabelecendo aos poucos, e é interessante perceber a evolução emocional de ambas, bem como as tentativas de superar os horrores da guerra.

Gosto bastante de livros que se ambientam em cenários fora do eixo Estados Unidos - Inglaterra, pois acho que nos enriquecem com culturas e pontos-de-vista diferentes. O que me chamou a atenção neste livro foi exatamente este aspecto, onde o cenário de fundo não era os EUA nem a Segunda Guerra Mundial, como é de praxe nas estórias sobre guerra. E, de fato, o livro mergulha nas guerras ocorridas ao longo dos anos na Chechênia, um contexto bem diferente do padrão.

O único problema deste livro, na minha opinião, foi que Anthony partiu do princípio de que nós, leitores, sabíamos do que ele estava falando. Mas não sabemos. (Convenhamos: quem é expert ou, pelo menos, conhecedor, das guerras na Chechênia?). Ele não explica as palavras usadas no livro (em russo? em checheno? não consegui identificar qual idioma era aquele), não aprofunda os conceitos da guerra e não conceitua o pano de fundo da estória. Esta ausência de explicações, ou esta premissa de que não é preciso explicar nada, me afastou, como leitora, das emoções das personagens e de seus conflitos entre si. 
Este livro poderia ser maravilhoso, de fazer chorar e emocionar, se o escritor (ou o editor) não tivessem assumido que todos os leitores entendem o cenário político complicado da Chechênia. Eu gostaria de entender, de verdade.

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